Amílcar e Zulmira estão em frente à televisão a assistir ao Preço Certo em Euros enquanto emborcam um garrafão de 5 litros do mais belo tinto feito precisamente com as uvas de Amílcar. Seria uma noite normal não estivessem eles a festejar as bodas de ouro e com o aquecedor ligado, situação esta que só acontecia em ocasiões especiais.
Já perto da montra final e enquanto o gordo tira o casaco para toda a gente ver que se está a desfazer em suor, Zulmira diz que está um pouco farta da relação que ambos têm debaixo dos lençois e que o sexo entre ambos entrou numa monotonia confrangedora.
- Já não me fodes da mesma maneira Amílcar. Nem a camisa de noite me tiras. Já não me afagas o berbigão como antes. Já não te excito? –Exclama Zulmira enquanto prepara uma sopa de vinho.
-Não é nada disso Zulmira. Ando muito stressado. Sabes bem que nas alturas da apanha da azeitona ando sempre na lua.
- Já não te excito não é? Foi por ter metido o aparelho nos dentes? E porque é que quando me dás banho já nem nas mamas me tocas?
Obviamente Amílcar entendeu que era o álcool a falar e como sempre, Zulmira quando entra naquele estado tal de embriaguez diz as verdades sem pensar nas consequências de tal ato. Amílcar apresta-se para tirar o cinto e mostrar a Zulmira que o garrafão quase vazio não serve de atenuante nestes casos de clara falta de respeito para com o seu companheiro de tantos e tantos anos.
Zulmira põe-se a jeito e Amílcar enquanto impõe o respeito que a situação merece e vai dando uma olhada à montra final para ver se consegue adivinhar o preço certo, vai também ele dizendo umas verdades:
- Desde que usas fraldas não és a mesma. Já não me ouves como antes e tens essa boca feita em merda. Dizem que o amor vence barreiras, mas essas fraldas com abas largas que usas tiram-me o tesão todo. Se não as usas mijas-te toda durante a noite e apanho cada susto! Até te digo mais: Foder-te é um favor que ainda te faço.
- Já ouviste falar em ménage à trois? – interroga Zulmira voltando a pôr o aparelho nos dentes enquanto se tenta levantar com a ajuda das muletas.
- Que dizes mulher?
- Falaram disso no programa da Júlia Pinheiro. Dizem que é bom para reacender a chama. Para voltar-mos a sentir calor. Fazias-me a mim e à nossa vizinha Lucinda na cama dela. Tem de ser na cama dela porque como sabes ela está acamada vai para vinte anos e também merece coitada.
- Mulher, aturei-te 50 anos e nunca disseste nada tão sábio. Essa Lucinda sempre me mandou uns olhos...Achas que ela alinha?
- Que remédio tem ela. Se não alinhar morre à fome.
Toda a experiência corre às mil maravilhas e Zulmira e Amílcar voltam para casa satisfeitos da vida e têm ambos a noção que salvaram o casamento das garras da monotonia que até então prevalecia.
Infelizmente Zulmira no dia seguinte falece vitima de uma doença chamada velhice e Amílcar trata de meter os papéis para casar com Lucinda.
P.S. – Por isso nunca metam o nome de Zulmira a uma filha ou filho vosso. E também porque são sempre os últimos nas turmas a receber os testes ou a dizerem presente na chamada. E neste caso os últimos não são os primeiros.
Já cheguei a Esposende, pela média daqui a oito horinhas já devo estar na Capital.
"Amílcar no Carnaval de 78, longe de imaginar que as fraldas ainda iriam abalar o seu casamento"