Vidas

Rosa Maria sempre teve uma vida difícil. Teve uma infância complicada e nunca comia mais do que o rabo de uma sardinha pois para além dos pais tinha ainda oito irmãos que lhe surripiavam o prato. Mas Rosa Maria tinha dois sonhos: ainda conseguir ser feliz e ter uma máquina de costura da Singer.

Deitada num fardo de palha e enquanto era possuída por um dos seus irmãos, Rosa Maria olhava as paredes do celeiro e imaginava-se a viver num sítio diferente. um sítio sem as brutalidades a que era sujeita diariamente. Uma casa arrendada na Arrentela juntamente com o grande amor da vida dela, o Amílcar, seu grande companheiro de brincadeiras e de trabalho nos imensos vales onde viviam...

Depois de tanto sofrimento combina com Amílcar uma fuga para a grande cidade e numa noite em que o pai e seis irmãos abusam dela decide que é a altura ideal. Amílcar rouba a Famel dois tempos a seu pai e espera por Rosa Maria junto ao sobreiro onde os seus lábios se tocaram pela primeira vez.
Na grande cidade as coisas não começam por correr bem e os primeiros tempos são passados a dormir ao relento e com Rosa Maria a fazer pela vida para trazer comida para a mesa...Amílcar não se dá com a vida em Penafiel e começa a passar a vida no café central onde descobre que para além de água também existe a cerveja. As coisas pioram e Amílcar descarrega as suas frustrações em Rosa Maria noite após noite.

Rosa Maria começa a perder a visão e atinge o limite. Olha-se ao espelho e já não se conhece. Tem a cara completamente desfigurada e comete um acto de loucura. Assassina Amílcar com uma colher de pau adaptada para matar bêbados violentos...

Após passar vinte anos no estabelecimento prisional de Paços de Ferreira, Rosa Maria está um trapo humano mas ainda disposta a pôr tudo para trás das costas e recomeçar de novo a sua vida...
Enquanto olha maravilhada pela primeira vez em 20 anos para o céu azul, Rosa Maria não se apercebe de um camiao a aproximar-se e o inevitável acontece...

A máquina de costura que Rosa Maria nunca teve...